domingo, 14 de novembro de 2010

Uma conversa sobre bichos


Naquela tarde quente, muito quente. Aquele sol escaldante do tipo que frita o juízo de qualquer um; qualquer um vírgula! Só não fritava o juízo de Ana Carolina, a velha Ana, a nossa Ana, a Ana gata leve e sensual de todos nós e isto se deve ao simples fato de que Ana não tinha mais nada dentro daquela cabeça para ser fritado. Juízo? Ela não sabia o que era isso fazia tempo.
Diante das circunstancias Ana não pensou duas vezes em tomar um copo d'agua, depois um chá verde seguido de um café preto, "Preto, puro e forte", era assim que ela sempre pedia...
Tomou banho,lavou os cabelos para se refrescar e saiu de casa em busca de Horácio... Velho Horácio, nosso Horácio, uma figura esse tal de Horácio.
 Ana tomou a condução e chegou na casa de Horácio toda suada, "calor miserável" ela pensou.
Tocou a camapnhia.
- Oi, tudo bem? disse Ana ofegante;
- Tudo, quer entrar?
- Vim aqui pra isso. Esse calor está me matando. Quando será que tudo isso vai acabar? Será que chegará um dia em tudo pegará fogo? Disse Ana com aquele tom de quem não queria falar sobre o tempo,mas não havia pensado em nada melhor para iniciar uma conversa.
- Pois é... o mundo está acabando.
Os dois sentaram-se no sofá e Horácio ficou mudo. Ana olhou para Horácio e procurou alguma coisa tipo felicidade, tipo energia, tipo algo cósmico quimicamente forte, mas não encontrou.  Caramba meu!  
- Horácio?
- Oi Ana.
- Ainda tem conhaque?
- É muito cedo pra beber Ana;
- Horácio?
- Oi Ana.
- Tem fogo?
- O dia já está muito quente, pra que voce quer mais fogo?
- Sei lá, queria incendiar tua casa com voce dentro, já pensou como seria legal?
- Já chega Ana, tenho muita coisa pra fazer, relatórios para entregar e um livro para ler. Se voce não se incomodar gostaria de dormir um pouco antes de fazer tudo isso que tenho pra fazer.
Ana mais uma vez reclamou do calor e se levantou abanando-se.
- Tá bom, fica pra outra vez então né?
- Ana, voce sabe que eu te amo, mas também sabe como são essas coisas de dia - dia. Amanhã eu te prometo que te chamo pra fazer alguma coisa. Vá pra casa, tente relaxar. Amanhã Ana, tenha paciencia... Amanhã.
As palavras, "paciencia" e "amanha" soavam como malditas pra Ana. Então ela se foi...

Na volta pra casa Ana decidiu dar uma paradinha no Jardim Botânico, queria se refrescar tomar um ar puro.
Ana olhou para os macacos e se emocionou. Nossa como eles são lindos, são tão bichos, tão tão...Ela passou a tarde observando os macacos que pulavam de árvore em árvore e ficavam tirando brincadeiras uns com os outros.
Depois que o sol havia esfriado Ana decidiu voltar para casa.
Em casa tomou mais um banho, se olhou no espelho demoradamente como se estivesse tentando puxar algum assunto consigo mesma. Abriu o armário e pegou a garrafa de conhaque, se serviu de uma dose e começou a chorar. Pensou no "amanhã" e na "paciencia".
Por um momento se sentiu injustiçada por tudo e por todos, começou a pensar em tragédias (coisa que sempre fazia com maestria)e se sentiu a pior das piores.
Sentiu fome, mas não teve coragem de se levantar. "Vou alimentar-me de meus pensamentos trágicos" - suspirou Ana, mas de pronto lembrou dos macaquinhos no Jardim e como eles eram bichos, bichos soltos. Foi aí que Ana tomou mais um banho, mais uma dose,trocou de roupa e saiu de casa.
(Gabi Machado)

"Pensei o quanto desconfortável é ser trancado do lado de fora; e pensei o quanto é pior, talvez, ser trancado no lado de dentro". (Virginia Woolf)

Nenhum comentário:

Postar um comentário